sábado, 13 de julho de 2024

TECENDO O CAOS

 O tempo não é causa, nem efeito de nada,

Apenas testemunha.
A vida é aliada do Caos,
Embora a seta do tempo aponte para a entropia máxima,
A vida, não podendo revertê-la, alentece-a.
A vida é aliada do Caos.
A seta do tempo aponta para a entropia máxima,
Curvando-se na tentativa de fugir a seu destino,
Mas a vida acelera a chegada.
A vida é aliada do Caos.

Numa solução, em um dado tempo,
Verifica-se um aparente equilíbrio do sistema.
Apenas isto: equilíbrio? Não! Aparente.
Uma solução também tem uma história não determinística.
Todos os seres podem alterar o universo,
O homem tem consciência disto.
A vida é aliada do Caos.

O tempo é a espada em nossas costas,
Forçando-nos (os seres) a construir mais tempo.
É Cronos nos devorando depois que criamos.
O rio vai junto com sua água,
E um novo rio chega.
Aquele que vai desaparece no oceano,
Mas não sua água.
Esta não desaparece, apenas deixa de ser rio,
E se torna oceano.
A vida é aliada do Caos.

Interseções do Conhecimento: Acaso, Necessidade e Evolução das Ideias

 A relação entre acaso e necessidade é uma questão central na filosofia da ciência e na compreensão da evolução das ideias e dos fenômenos naturais. Essas duas forças aparentemente opostas influenciam profundamente a maneira como entendemos o mundo e a nossa própria existência. No contexto científico, o acaso é frequentemente associado a eventos aleatórios e imprevisíveis, enquanto a necessidade está ligada às leis naturais que determinam o comportamento dos sistemas físicos. A mecânica quântica, por exemplo, introduz o conceito de incerteza, onde partículas subatômicas não seguem trajetórias determinadas, mas probabilísticas. Isso desafia a visão clássica de um universo totalmente previsível e determinado.

A evolução das ideias é um processo dinâmico e contínuo, influenciado por fatores históricos, culturais e individuais. Filósofos como Hegel e Marx desenvolveram teorias sobre a evolução dialética, onde as ideias se desenvolvem através de conflitos e sínteses sucessivas. Para Hegel, a evolução das ideias é impulsionada pela dialética entre o ser e o não-ser, levando a uma síntese superior que integra elementos de ambas as posições. Hegel introduziu o conceito de uma "espiral do conhecimento", onde cada etapa de desenvolvimento das ideias supera e integra as anteriores, levando a um progresso contínuo. Esse processo dialético não é linear, mas cíclico, onde as ideias evoluem através de contradições e resoluções. Marx, por sua vez, aplicou a dialética hegeliana ao materialismo histórico, argumentando que a evolução das ideias está intimamente ligada às condições materiais e econômicas da sociedade.

Analogamente à seleção natural na biologia, a seleção das ideias envolve a sobrevivência e propagação das ideias mais adaptativas. As ideias competem em um "mercado" de conceitos, onde as mais robustas e relevantes ganham aceitação e influenciam o pensamento coletivo. Essa analogia ressalta a importância da adaptabilidade e da capacidade de resposta às mudanças contextuais. A mitologia e a filosofia são formas fundamentais de compreender e explicar o mundo. A mitologia utiliza narrativas simbólicas para transmitir verdades profundas sobre a condição humana e os mistérios do universo. Esses mitos fornecem uma base cultural que molda a visão de mundo de uma sociedade.

Platão, em sua obra "A República", utiliza o Mito da Caverna para ilustrar a diferença entre o mundo sensível e o mundo das ideias. Os prisioneiros na caverna, que só veem sombras projetadas nas paredes, representam aqueles que percebem apenas a realidade sensível, enquanto o prisioneiro que escapa e vê a luz do sol representa o filósofo que alcança o conhecimento verdadeiro. Este mito sublinha a importância da filosofia como um meio de transcender as aparências e atingir a verdade. Embora a filosofia busque explicações racionais e sistemáticas, ela frequentemente se inspira na mitologia para explorar questões existenciais e cosmológicas. A mitologia oferece metáforas poderosas que podem ser reinterpretadas filosoficamente para oferecer insights sobre a natureza da realidade e da existência humana.

A ciência e a sociedade estão profundamente interligadas, com a ciência influenciando e sendo influenciada pelos valores, necessidades e contextos sociais. A prática científica não ocorre em um vácuo, mas em um ambiente social que molda as prioridades de pesquisa, a aplicação de descobertas e a percepção pública da ciência. A ciência desempenha um papel crucial no avanço do conhecimento, na inovação tecnológica e na melhoria da qualidade de vida. Ela fornece as ferramentas e os métodos para investigar o mundo natural e resolver problemas práticos. No entanto, as descobertas científicas também levantam questões éticas e sociais, que devem ser abordadas de maneira responsável.

As políticas de ciência e tecnologia refletem as prioridades e os valores de uma sociedade. Elas determinam o financiamento de pesquisa, a regulamentação de novas tecnologias e a aplicação dos resultados científicos. A interação entre ciência e política é complexa, pois envolve considerações de benefício público, segurança, ética e equidade. Os desafios contemporâneos, como as mudanças climáticas, a pandemia de COVID-19 e a desigualdade social, destacam a importância da ciência na formulação de respostas eficazes. Ao mesmo tempo, a sociedade enfrenta o desafio de garantir que os avanços científicos sejam utilizados de maneira equitativa e sustentável. Isso exige uma colaboração contínua entre cientistas, formuladores de políticas, educadores e o público em geral.

A interação entre acaso e necessidade, a evolução das ideias, a relação entre mitologia e filosofia e o impacto da ciência na sociedade são temas interconectados que enriquecem nossa compreensão do mundo. Compreender essas dinâmicas é crucial para navegar os desafios e oportunidades do presente e do futuro, promovendo um progresso que seja tanto inovador quanto ético. A filosofia, a ciência e a sociedade devem trabalhar juntas para criar um mundo mais informado, justo e sustentável.

Determinismo Social e suas Implicações

 O Darwinismo Social é uma interpretação sociopolítica das teorias de Charles Darwin sobre a evolução das espécies, aplicada ao contexto das relações humanas e sociais. Embora o termo "Darwinismo Social" sugira uma ligação direta com Darwin, muitas das ideias associadas a essa filosofia são, na verdade, derivações e distorções posteriores, que buscam justificar desigualdades sociais e políticas através da seleção natural.

Origens e Desenvolvimento

As ideias centrais do Darwinismo Social não se originam diretamente de Darwin, mas de pensadores como Herbert Spencer, que aplicaram a noção de "sobrevivência do mais apto" às sociedades humanas. Spencer acreditava que o progresso social era resultado da competição e da seleção natural, e que ajudar os mais fracos ou desfavorecidos iria contra as leis naturais, impedindo a evolução e o desenvolvimento da sociedade.

Implicações Sociais e Políticas

O Darwinismo Social foi utilizado para justificar uma série de políticas e práticas que promoviam a desigualdade e a opressão. Entre elas, destacam-se a eugenia, o racismo científico, o imperialismo e a desigualdade econômica. A eugenia, por exemplo, propunha a melhoria genética da população através de políticas de reprodução controlada, muitas vezes envolvendo a esterilização forçada de indivíduos considerados "indesejáveis".

Críticas e Controvérsias

As ideias do Darwinismo Social foram amplamente criticadas por sua falta de base científica e por suas implicações éticas. Muitos cientistas e filósofos argumentaram que aplicar conceitos biológicos a contextos sociais é uma simplificação indevida e perigosa. A biologia não deve ser usada para justificar desigualdades sociais, pois a evolução das sociedades humanas é muito mais complexa e influenciada por uma variedade de fatores culturais, econômicos e políticos.

Filosofia da Ciência e Determinismo

A filosofia da ciência envolve a reflexão sobre os métodos e fundamentos da prática científica, e uma das questões centrais é o determinismo. O determinismo é a doutrina de que todos os eventos, incluindo as ações humanas, são determinados por causas anteriores. Esta ideia tem profundas implicações para a compreensão da liberdade humana e da natureza do conhecimento científico.

O Determinismo na Ciência

No contexto científico, o determinismo é frequentemente associado às leis da física clássica, que descrevem um universo mecanicista onde cada evento é resultado de causas anteriores. Este modelo foi profundamente influenciado pela física newtoniana, que via o universo como uma máquina previsível e ordenada. No entanto, com o advento da mecânica quântica e da teoria do caos, a visão determinista estrita foi desafiada.

Indeterminismo e Incerteza

A mecânica quântica introduziu o conceito de incerteza e indeterminismo na física. O princípio da incerteza de Heisenberg, por exemplo, sugere que não é possível conhecer simultaneamente a posição e a velocidade de uma partícula com precisão infinita. Isso levou à compreensão de que, em escalas subatômicas, os eventos não são completamente previsíveis e podem ocorrer de maneira probabilística.

Filosofia da Ciência e Livre Arbítrio

A questão do determinismo também está ligada ao debate sobre o livre-arbítrio. Se todas as ações humanas são determinadas por causas anteriores, onde fica a liberdade de escolha? Esta questão tem sido abordada por filósofos como Thomas Hobbes e David Hume, que ofereceram diferentes perspectivas sobre a compatibilidade entre determinismo e liberdade.

Evolução e Termodinâmica

A termodinâmica é a ciência que estuda as leis que regem as relações entre calor, trabalho e energia. A segunda lei da termodinâmica, que introduz o conceito de entropia, tem implicações profundas para a compreensão da evolução e da natureza da vida.

Entropia e Evolução

A segunda lei da termodinâmica afirma que em qualquer processo natural, a entropia, ou desordem, tende a aumentar. No contexto da biologia evolutiva, isso parece contradizer a observação de que os seres vivos são sistemas altamente organizados. No entanto, a vida pode ser vista como um sistema que mantém sua ordem local ao aumentar a entropia global do ambiente.

Estruturas Dissipativas e Ordem a Partir do Caos

O trabalho de Ilya Prigogine sobre estruturas dissipativas mostrou como sistemas longe do equilíbrio podem desenvolver ordem espontaneamente. Esses sistemas, ao dissipar energia, podem formar estruturas complexas e organizadas, oferecendo uma explicação para a emergência de ordem na evolução biológica.

Evolução como Processo Termodinâmico

A evolução biológica pode ser entendida como um processo que aproveita fluxos de energia para criar e manter estruturas organizadas. Organismos vivos são sistemas abertos que trocam energia e matéria com o ambiente, e a evolução pode ser vista como uma forma de aumentar a eficiência desses processos.

Religião e Ciência

A relação entre religião e ciência tem sido marcada por tensões e debates, mas também por tentativas de conciliação. As duas esferas representam modos distintos de entender a realidade e o lugar do ser humano no universo.

Conflito e Diálogo

Historicamente, houve momentos de conflito aberto entre religião e ciência, como no caso do julgamento de Galileu Galilei. No entanto, muitos pensadores têm buscado um diálogo construtivo entre as duas esferas. A ciência oferece explicações baseadas em evidências empíricas, enquanto a religião aborda questões de significado e propósito.

Darwin e Wallace

Charles Darwin e Alfred Russel Wallace são co-fundadores da teoria da evolução por seleção natural. Embora tenham chegado a conclusões semelhantes de forma independente, suas trajetórias e perspectivas apresentaram diferenças significativas.

Contribuições de Darwin

Darwin é amplamente reconhecido por sua obra "A Origem das Espécies", onde apresentou a teoria da seleção natural. Seu trabalho foi fundamentado em uma vasta coleção de evidências e observações cuidadosas ao longo de muitos anos.

Contribuições de Wallace

Wallace, por outro lado, desenvolveu suas ideias sobre a evolução durante suas expedições na Amazônia e no Arquipélago Malaio. Embora menos conhecido que Darwin, Wallace fez importantes contribuições para a biogeografia e para a compreensão da seleção natural.

Diferenças e Complementaridades

Embora ambos tenham chegado à teoria da seleção natural, Wallace e Darwin diferiram em alguns aspectos. Wallace era mais aberto a ideias sobre a influência de forças espirituais na evolução, enquanto Darwin mantinha uma visão mais materialista e mecanicista. Suas perspectivas complementares ajudaram a formar uma compreensão mais rica e multifacetada da evolução.

Conclusão

As implicações do Darwinismo Social, as discussões sobre determinismo na filosofia da ciência, as interações entre evolução e termodinâmica, e o diálogo entre religião e ciência, juntamente com as contribuições de Darwin e Wallace, mostram a complexidade e a riqueza do campo do conhecimento humano. Entender essas diversas perspectivas nos permite apreciar melhor a interconexão entre ciência, filosofia e sociedade.

Contexto Histórico do Conhecimento

 O conhecimento humano é moldado por seu contexto histórico e pelas condições sociais, políticas e culturais em que é produzido. A compreensão desse contexto é essencial para entender como as ideias evoluem e são aplicadas ao longo do tempo.

A Teoria da Evolução e o Darwinismo Social

A teoria da evolução de Charles Darwin, publicada em 1859, trouxe uma nova compreensão sobre a origem das espécies e a seleção natural. No entanto, o chamado Darwinismo Social, que aplica conceitos de seleção natural a contextos sociais e econômicos, é um desenvolvimento posterior que muitas vezes distorceu as ideias de Darwin para justificar políticas de eugenia, racismo e imperialismo.

Influências Históricas na Teoria da Evolução

Antes de Darwin, o pensamento sobre evolução já estava presente nas obras de filósofos e cientistas como Lamarck e Erasmus Darwin, avô de Charles Darwin. A ideia de que as espécies se transformam ao longo do tempo era discutida, mas foi Charles Darwin quem sistematizou essas ideias em um corpo teórico baseado na seleção natural. Alfred Russel Wallace, co-fundador da teoria da evolução, também teve um papel crucial, mas suas ideias divergiam em alguns aspectos importantes, como a aplicação dos processos de seleção observados na domesticação de animais à natureza.

Concepções Darwinianas e Sociais

As concepções Darwinianas podem contribuir para o entendimento de processos sociais, mas devem ser aplicadas com cuidado para evitar simplificações indevidas. Richard Dawkins, em "O Gene Egoísta", argumenta que a seleção natural pode ser aplicada à evolução cultural, mas essa aplicação deve levar em conta as complexidades das interações sociais e culturais.

Eugenia e Evolução Social

A eugenia, que ganhou destaque no início do século XX, é uma aplicação problemática das ideias evolutivas, propondo a melhoria genética da população através de políticas de reprodução controlada. Esta abordagem foi amplamente desacreditada devido a suas associações com políticas racistas e genocidas.

A Relação entre Ciência e Sociedade

A ciência é tanto um produto quanto uma influência sobre a sociedade. O desenvolvimento científico ocorre em um contexto social e político, e suas descobertas podem ter profundas implicações para a estrutura social. O entendimento da evolução das ideias científicas requer uma consideração cuidadosa das condições históricas e culturais em que essas ideias foram desenvolvidas.

Conclusão

O conhecimento é moldado por seu contexto histórico, e as ideias científicas devem ser compreendidas dentro das condições sociais, políticas e culturais de sua época. A aplicação de conceitos científicos a contextos sociais deve ser feita com cuidado para evitar distorções e simplificações indevidas. Compreender o contexto histórico do conhecimento é fundamental para apreciar a evolução das ideias e suas implicações para a sociedade.

Construção e Transmissão do Conhecimento

 


A construção e transmissão do conhecimento são processos fundamentais na experiência humana, que ocorrem através de diversas formas e metodologias. Esses processos envolvem a interação entre sujeitos, a manipulação de informações e a aplicação de saberes em contextos variados. Vamos explorar como o conhecimento é construído, transmitido e transformado em diferentes contextos sociais e culturais.

Falar, Escrever e Gesticular: Formas de Produção e Veiculação

Falar, escrever e gesticular são maneiras elementares de os seres humanos produzirem e veicularem informações, conhecimentos e saberes. As informações são registradas em suportes materiais palpáveis, como livros, artigos, e registros digitais, enquanto o conhecimento é apreendido de maneira dinâmica na subjetividade do indivíduo, sempre sendo reelaborado. O saber, por sua vez, é mobilizado para interagir com o mundo, com os semelhantes, com a sociedade e com a vida (Charlot, 2000).

Relação Sujeito-Objeto

A relação sujeito-objeto é central na construção do conhecimento. Por meio dessa relação, resultam informações, conhecimentos e saberes que buscam compreender, representar e explicar os objetos do mundo. Este processo é fundamental para o sentido existencial e a razão de ser da vida, o motivo pelo qual os seres humanos são, pensam, sentem, julgam, valoram, decidem e agem no aqui-agora de seu ser-estar no mundo (Correia, 2010).

Classificações do Conhecimento

Os conhecimentos e saberes podem ser classificados de diversas formas, incluindo saberes da vida (senso comum), conhecimento mítico, teológico, filosófico, científico, técnico e saber das artes. Cada uma dessas classificações reflete diferentes formas de interagir com o mundo e compreender a realidade.

Saberes da Vida

O saber da vida, também conhecido como senso comum, baseia-se na vivência espontânea do cotidiano e começa a ser construído desde o nascimento, estendendo-se até a morte. Esse tipo de saber é não-sistemático, não se baseando em procedimentos metodológicos rigorosos. O saber da vida resulta da interação direta com o mundo e é frequentemente chamado de saber empírico ou vulgar.

Conhecimento Mítico

O conhecimento mítico é uma modalidade de conhecimento que se baseia na intuição e na crença em modelos naturais e sobrenaturais. Ele deriva do entendimento de que existem forças e entidades além da compreensão humana que dão sentido ao mundo. O conhecimento mítico ajuda a "explicar" o mundo através de representações que não são logicamente raciocinadas nem resultantes de experimentações científicas.

Saber Teológico

O saber teológico fundamenta-se na fé e na doutrina religiosa. Este tipo de conhecimento é dedutivo, partindo de princípios universais para interpretar e dar sentido às realidades particulares. A teologia busca compreender a natureza do divino e a relação entre o ser humano e o transcendente, utilizando textos sagrados, tradições e experiências religiosas como fontes de conhecimento.

Conhecimento Filosófico

O conhecimento filosófico é racional e especulativo, baseado na busca pela verdade através da reflexão e do questionamento crítico. A filosofia é sistemática, mas não experimental, e procura ir à raiz das questões fundamentais sobre a existência, a moralidade, o conhecimento e a realidade. O rigor lógico e a coerência argumentativa são essenciais para a produção do conhecimento filosófico.

Saber Científico

O saber científico é caracterizado pela racionalidade e pelo método empírico. Ele é produzido mediante a investigação da realidade por meio de experimentos, observações e análises rigorosas. O conhecimento científico é sistemático, metódico e validado por meio de testes e comprovações repetíveis. Ele busca entender fatos, fenômenos, relações e acontecimentos na realidade cósmica, humana e natural, utilizando a experimentação como uma ferramenta fundamental para a construção do conhecimento.

Conhecimento Técnico

O conhecimento técnico é prático e especializado, focado na aplicação de habilidades e procedimentos para resolver problemas específicos e alcançar objetivos concretos. Ele se baseia no saber fazer e na operacionalização de técnicas e ferramentas. O conhecimento técnico é essencial para o domínio do mundo e da natureza, aplicando de maneira eficaz os conhecimentos científicos e empíricos.

Saberes das Artes

As artes e os saberes que elas possibilitam valorizam a expressão dos sentimentos, emoções e intuições humanas. O conhecimento artístico é subjetivo e intuitivo, buscando capturar a essência da experiência humana e do mundo através de diferentes formas de expressão, como a música, a pintura, a escultura, a literatura e o teatro. As artes têm o poder de comunicar verdades profundas e universais de maneira sensível e estética.

Transmissão do Conhecimento

A transmissão do conhecimento ocorre por meio de diversos canais e metodologias, incluindo educação formal, tradição oral, escrita e tecnologia digital. Cada forma de transmissão possui suas próprias vantagens e limitações, e a escolha do método depende do contexto e do tipo de conhecimento a ser transmitido. Na educação formal, por exemplo, o conhecimento é estruturado e sistematizado, enquanto na tradição oral ele é transmitido de geração em geração através de narrativas e práticas culturais.

Conclusão

A construção e transmissão do conhecimento são processos complexos e multifacetados, que envolvem a interação entre sujeitos, a manipulação de informações e a aplicação de saberes em contextos variados. Compreender as diferentes formas e classificações de conhecimento, bem como os métodos de transmissão, é fundamental para promover um entendimento mais amplo e profundo da realidade. A valorização e a integração dessas diversas formas de conhecimento são essenciais para o desenvolvimento pessoal, cultural e científico da sociedade

A natureza (dialética) do Conhecimento

O conhecimento humano é vasto e diversificado, podendo ser classificado em diferentes tipos, como científico, teológico, filosófico e de senso comum. Cada um desses tipos de conhecimento tem suas próprias características e modos de manifestação. No entanto, a interação entre indivíduos na sociedade e a maneira como esses conhecimentos são utilizados podem transformar a natureza do próprio conhecimento. 

 Um dado conhecimento não é uma entidade fixa; ele ganha significado e é classificado pelo contexto em que se manifesta. Por exemplo, o conhecimento de que uma infusão tem ação anti-inflamatória, inicialmente baseado no senso comum, muda de natureza quando é verificado e validado pelo escrutínio científico. Esse processo de validação transforma o conhecimento em científico, não pela informação em si, mas pela relação dialética entre o conhecimento e quem o trata.

A manifestação do conhecimento é fundamental para sua classificação. A informação de que o coronavírus sofre diversas mutações pode ser enunciada tanto por um virologista quanto por um leigo, mas sua natureza muda de acordo com quem a profere. O conhecimento do uso de ácido acetilsalicílico (aspirina) para dor de cabeça é senso comum quando um paciente a utiliza em casa, mas é científico para um bioquímico que compreende seus mecanismos de ação. Assim, a apropriação do conhecimento modifica sua natureza original, transformando-o conforme a relação estabelecida com ele.

 

A Produção e Veiculação do Conhecimento

A produção e veiculação de informações e conhecimentos pelos seres humanos ocorrem por meio de diversas formas, como falar, escrever e gesticular. As informações são registradas em suportes materiais palpáveis, enquanto o conhecimento é apreendido de maneira dinâmica na subjetividade do indivíduo, sempre sendo reelaborado. O saber, por sua vez, é mobilizado para a interação com o mundo, com os semelhantes, com a sociedade e com a vida (Charlot, 2000). Por meio da relação sujeito-objeto, resultam informações, conhecimentos e saberes que buscam compreender, representar e explicar os objetos do mundo. Este processo é fundamental para o sentido existencial e a razão de ser da vida (Correia, 2010).

 

Classificações do Conhecimento

Os conhecimentos e saberes são classificados de diversas formas, incluindo saberes da vida (senso comum), conhecimento mítico, teológico, filosófico, científico, técnico e saber das artes, entre outras possibilidades.

 

Saber da Vida

O saber da vida baseia-se na vivência espontânea do cotidiano e começa a ser construído desde o nascimento, estendendo-se até a morte. Esse tipo de saber é não-sistemático, não se baseando em procedimentos metodológicos rigorosos. Ele resulta da interação com o mundo e é frequentemente chamado de saber empírico, vulgar ou senso comum.

 

Conhecimento Mítico

O conhecimento mítico é baseado na intuição e deriva da crença em modelos naturais e sobrenaturais que explicam a existência. Este tipo de conhecimento ajuda a "explicar" o mundo através de representações que não são logicamente raciocinadas ou resultado de experimentações científicas.

 

Saber Teológico

O saber teológico fundamenta-se na fé e é dedutivo, partindo de uma realidade universal para atribuir sentido a realidades particulares.

 

Conhecimento Filosófico

O conhecimento filosófico é racional e baseado na especulação em torno do real, buscando a verdade. Ele é sistemático, mas não experimental, e é produzido com rigor lógico, em uma busca incessante pela verdade do existente.

 

Saber Científico

O saber científico é racional e produzido mediante investigação da realidade. Ele se baseia em experimentos e na busca do entendimento lógico de fatos e fenômenos. O conhecimento científico é sistemático, metódico e não se realiza de maneira espontânea, intuitiva ou baseada na fé, mas sim através de validação e comprovação.

 

Conhecimento Técnico

O fundamento básico do conhecimento técnico é o saber fazer, a operacionalização. Ele é especializado e específico, focado no domínio do mundo e da natureza, aplicando outros saberes que lhe são úteis.

 

Saber das Artes

As artes possibilitam saberes que valorizam os sentimentos, a emoção e a intuição raciosentimental humana.

 

Conclusão

O conhecimento humano é multifacetado e sua classificação depende da relação dialética entre o conhecimento e seu contexto de uso. Seja na forma de senso comum, mítico, teológico, filosófico, científico, técnico ou artístico, o conhecimento adquire sua natureza e valor através da interação com os indivíduos e a sociedade. Compreender essas diferentes formas de conhecimento e suas manifestações é fundamental para a construção de um entendimento mais amplo e profundo da realidade que nos cerca.

sábado, 1 de dezembro de 2018

O porvir do antes, e o antes do porvir


O porvir do antes, e o antes do porvir
Comemos bem, quando ao final ainda temos fome!

Duas coisas nos tornam humanos, a certeza da finitude e a esperança no porvir.
A busca por uma infinitude, provavelmente inalcançável, acaba por destruir ambas.
Destrói a certeza da finitude na própria busca, fruto de seu próprio objetivo, e destrói a esperança no porvir que se torna inútil em resultado e consequência da infinitude, ou simplesmente de seu desejo e/ou busca.
Por outro lado, se não se busca a infinitude, aceita-se, de alguma forma, a finitude, e, uma vez que ela nos humaniza, se a deseja. Desejar a finitude é, de alguma forma, desejar a morte. O desejo da própria morte é o que, finalmente, nos humaniza, sendo sua força motriz.
Desejar a morte não é sinônimo de buscá-la ou antecipá-la. Desejar a morte é compreendê-la como o desfecho da finitude que nos humaniza antecipadamente por simplesmente se a avistar. Embora a finitude seja irrevogável, a sua compreensão não o é. E se não a compreendemos, não a aceitamos, não a temos no horizonte, então é como se fosse possível revogá-la, e, por conseguinte nos desumanizar. Assim, embora a finitude seja essencial para nossa humanização, não é suficiente. É necessário, ainda, sua certeza e aceitação.
Ademais, na busca da infinitude, nego o porvir, não porque ele não venha a ser, mas porque em nossa ambicionada infinitude, o desprezamos, o negamos como necessário para nós mesmos e para nossa humanização. Porque se posso ser infinito, não há porque o novo início. E se não há, agora ou adiante, o porquê de um novo início, nos perguntaríamos porque antes haveria de o haver, e isto nos faria refletir sobre a necessidade de gratidão, porque somos o porvir do antes, e o antes do porvir. Ser humano deveria ser, também, fruto da gratidão.
A busca incessante de prolongar a vida é, em algum momento, uma busca pela infinitude a depender de como se relacionam os fenômenos presentes. Se buscamos prolongar a vida sem se dar conta da razão, de uma forma vazia de sentido, então configuramos uma espécie de consumismo. E se nos apegamos como fazemos em relação ao consumo de bens, se transformamos unidades temporais de existência em produtos a serem consumidos, na vã esperança de saciarmos desejos, transformamos a vida em produto. A vida como um produto passa a ser entendida como algo a se consumir e neste consumo nos saciarmos. E, como toda e qualquer tentativa de saciar desejos, fadada ao fracasso. Desejos não são saciáveis.
Na vida, frequentemente procuramos fartarmo-nos das coisas, de tudo. De bens, de comidas, de relações, de entendimentos e até de tempo de vida. No entanto, vivemos bem, quando ao final ainda temos vontade de viver, o que não é sinônimo de apegar-se a ela de forma irrestrita. Aqui há um paradoxo, o que nos humaniza é o desejo da morte, mas sem que tenhamos nos fartado da vida.

domingo, 19 de janeiro de 2014

De quem é este linfócito T ?

Rejeição de receptor? como assim?
Quando pensamos em transplante de órgãos ou tecidos, uma das preocupações que temos é a de que o receptor desenvolva resposta imunológica contra o transplante. E uma das medidas é causar imunossupressão no receptor. Isto realmente é necessário, mas não é tudo.
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Vamos detalhar um pouco mais o processo de rejeição de transpante.
A rejeição a um órgão de outra pessoa (aloenxerto) resulta de uma série complexa de interações envolvendo tanto a resposta inata quanto a resposta adaptativa do sistema imunitário, com os linfócitos T assumindo papel central.
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A habilidade dos linfócitos T do receptor em reconhecer antígenos derivados do doador (alorreconhecimento) inicia a rejeição alógrafa. Uma vez que tenham sido ativados, os linfócitos T do receptor realizam expansão clonal e se diferenciam em linfócitos efetores, e migram para o enxerto promovendo a sua destruição.
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Há ainda os aloanticorpos produzidos pelos linfócitos B com ajuda dos linfócitos T CD4.
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A rejeição alógrafa ocorre por alorreconhecimento direto e indireto. No primeiro (direto),antígenos ligados às moléculas de MHC II das células apresentadoras de antígeno (células dendríticas) do enxerto INTERAGEM com linfócitos T do receptor (Teoria do leucócito passageiro). Por outro lado, no alorreconhecimento indireto, os antígenos são apresentados por células dendríticas do próprio hospedeiro.
A intensidade de resposta é bem maior no alorreconhecimento direto, mas a medida que o tempo passa, com a depleção das células dendríticas do enxerto, o alorreconhecimento indireto é mais provável de ocorrer.
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A estimulação dos linfócitos T é portanto central para a rejeição de enxerto, especialmente na rejeição aguda. Os linfócitos T requerem dois sinais para tornarem-se otimamente ativadas e realizar funções efetoras: (1) liberação de sinais após a ligação dos complexos MHC-antígeno com o receptor do linfócito T, e (2) liberação de sinais inespecíficos por meio de moléculas co-estimuladoras (ou acessórias).
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Pelo descrito até agora, a rejeição está relacionada diretamente aos linfócitos T do receptor atacando as células do enxerto (doador) que é percebido como não-próprio pelo seu sistema imunitário (do receptor). CONTUDO, em publicação do dia 17 de janeiro de 2014, no periódico Modern Pathology, LIAN et al. argumentam que este processo deve ser repensado, pois ficou patente, ao menos nos transplantes de face (tema do estudo), que os linfócitos do enxerto (doadores) têm papel significativo no processo de alorrejeição. Este fato poderá se configurar em mudança de paradigma no entendimento das rejeições de órgãos e tecidos.

FONTES:
http://www.sciencedaily.com/releases/2014/01/140117104027.htm
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2778785/#!po=62.5000


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Avaliação Conceitual sobre Osmose e Difusão


Instrumento de avaliação traduzido a partir do artigo 
Fisher, Williams & Lineback, 2011
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3228659/

Avaliação Conceitual sobre Osmose e Difusão

1. Todas as membranas celulares são
a. permeáveis.
b. semipermeáveis.

2. A razão de minha resposta anterior é porque as membranas celulares
a. permitem que apenas substâncias benéficas entre nas células.
b. permitem livre movimento de material para dentro ou para fora das células.
c. permitem que algumas substâncias a atravessem, mas não permitem que outras o façam.
d. permitem que algumas substâncias entre nas células, mas impedem a saída de todas as substâncias.

3. Durante o processo de difusão, partículas gerarão movimento a partir de
a. alta para baixa concentração.
b. baixa para alta concentração.

4. A razão de minha resposta anterior é porque
a. há chance maior das partículas repelirem umas às outras
b. partículas de uma área cheia querem se mover para a área com mais espaço.
c. movimento aleatório das partículas em suspensão resulta em distribuição uniforme.
d. partículas tendem a se movimentar até se distribuírem uniformemente, então elas param de se mover.

5. Se uma pequena quantidade de sal (1 colher de sopa) é adicionada a um grande volume de água (4 litros) e mantida por vários dias sem ter sido agitado, as moléculas de sal irão
a. se distribuir uniformemente por todo o frasco.
b. está mais concentradas no fundo do frasco.

6. A razão de minha resposta anterior é porque
a. haverá mais tempo para tudo se arranjar.
b. o sal é mais pesado do que a água e irá afundar.
c. o sal irá se dissolver muito pouco ou não se dissolverá na água.
d. haverá movimento de partículas da área com maior concentração para a de menor concentração.

7.  Na Figura 1, duas colunas de água estão separadas por uma membrana semipermeável através da qual apenas água pode passar. O Lado 1 contem um corante alaranjado e água; o Lado 2 contém água pura. Após duas horas, o nível de água do lado 1 será...
a. mais alto do que o Lado 2.
b. mais baixo do que o Lado 2.
c. da mesma altura que o Lado 2.

8. A razão de minha resposta anterior é porque
a. a concentração de moléculas de água é menor do Lado 1.
b. água irá fluir livremente e manter igual nível em ambos os lados.
c. água se move da mais baixa para a mais alta concentração de água.
d. água irá se mover da mais alta para a mais baixa concentração de soluto.

9. Imagine dois frascos (beakers) grandes com igual volume de água limpa sob duas temperaturas diferentes (veja a Figura 2). Em seguida, uma gota de corante verde é adicionada a cada frasco de água. Eventualmente, as águas tornar-se-ão verdes claras. Em qual frasco a água vai tornar-se homogeneamente colorida primeiro?
a. Beaker 1
b. Beaker 2

10. A razão de minha resposta anterior é porque
a. o corante se move mais rápido.
b. o corante se quebra mais rapidamente.
c. é mais fácil as moléculas se moverem lentamente.
d. a temperatura muda o tamanho das moléculas de corante.

11. Uma solução aquosa é colocada do lado esquerdo de um frasco que está dividido por uma membrana semipermeável (Figura 3). Água pura está do lado direito. Com o passar do tempo, o lado direito tornar-se-á gradualmente azul, enquanto a cor do lado esquerdo torna-se mais clara. Isto sugere que
a. o nível do líquido diminuirá do Lado 1 e aumentará no Lado 2.
b. o nível do líquido aumentará do Lado 1 e diminuirá do Lado 2.
c. os níveis dos líquidos em ambos os lados permanecerá o mesmo.


12. A razão de minha resposta anterior é porque
a. água e corante podem atravessar a membrana.
b. o corante pode atravessar a membrana, mas se move mais lentamente do que a água.
c. o corante move-se para o Lado 2 e aumenta o nível do líquido.
d. a pressão atmosférica produzirá sempre iguais níveis de água.

13. Quando uma hemácia humana é colocada em água fresca pura, a célula irá
a. murchar.
b. inchar e estourar.
c. permanecer inalterada.

14. A razão de minha resposta anterior é porque
a. a célula perde estabilidade fora do corpo humano.
b. uma célula tem homeostase e manterá a si própria.
c. moléculas de água movem-se do local de mais alta concentração de água para a de menor concentração.
d. moléculas de água movem-se do local de maior concentração de partículas dissolvidas para o de menor concentração.

15. Imagine que você adicionou  uma gota de corante azul em um frasco de água limpa e após várias horas o fluido torna-se homogeneamente azul claro. Ao mesmo tempo as moléculas do corante
a. param de se mover.
b. continuam a se mover aleatoriamente.

16. A razão de minha resposta anterior é porque
a. moléculas movem até que ela estejam homogeneamente distribuídas, e então param.
b. se as moléculas do corante parassem, elas se depositariam no fundo do frasco.
c. quando moléculas estão homogeneamente distribuídas, elas ainda continuam a se mover.
d. este é um sistema liquido. Se fosse um sistema sólido, as moléculas poderiam parar de se mover.

17. A Figura 4 descreve um caso em que duas soluções aquosas foram colocadas em dois frascos (beakers) idênticos. O volume da solução em cada frasco é o mesmo. Como você entende, o Beaker 1 contém
a. mais água do que o Beaker 2.
b. menos água do que o Beaker 2.
c. a mesma quantidade de água que o Beaker 2.

18. A razão de minha resposta anterior é porque
a. os líquidos estão na mesma altura nos beakers.
b. água no Beaker 1 contém mais partículas dissolvidas.
c. água no Beaker 1 contém menos partículas dissolvidas.







terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Tipos de adipócitos

Existem diferentes tipos de adipócitos que podem, no entanto, serem classificados em três tipos principais baseado (ao menos em parte) na cor do tecido adiposo: branco, marrom e bege.

A função geral dos adipócitos brancos é estocar energia, enquanto a função dos adipócito marrons é dissipar energia em processo produtor de calor (termogênese).
A função  e origem de adipócitos beges é menos conhecida e ainda sob estudo, mas acredita-se ter origem a partir de adipócitos brancos por transdiferenciação, e apresentarem propriedades de adipócitos marrons, inclusive dissipar energia, e podem servir em processos terapêuticos anti-obesidade.

Fonte:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3507952/pdf/pbio.1001436.pdf

Stephens, JM. The fat controller: adipocyte development. PLOS Biology. 10 (11): novembro, 2012.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Fígado - iecur ficatum


Fígado (Sírio Possenti)

Meu exemplo preferido de história das palavras é ‘fígado’. É que essa palavra exibe simultaneamente dois fenômenos históricos fundamentais. Em muitos lugares, lê-se apenas que ‘fígado’ veio do latim ‘ficatum’. Em lugares um pouco salubres, se explica que houve um processo altamente geral de sonorização de consoantes surdas em posição intervocálica e que se vê aplicado nessa palavra (c > g, t > d). A consoante inicial (f) permaneceu surda porque não está entre vogais.
Mas o mais interessante, talvez, é que ‘ficatum’ não tinha nada a ver com esse órgão dos animais. ‘Ficatum’ tinha a ver com figos, era algo afetado, mudado, marcado pelo figo. O órgão se chamava ‘iecur’, em latim. ‘iecur ficatum’ era o fígado que resultava da alimentação (superalimentação, na verdade) de animais com figos (assim como ‘drogado’ é o que está em certo estado porque consome drogas – ou o que é viciado nelas).
Mais especificamente, tratava-se dos gansos, que produziam o fígado gordo, o ainda famosofois gras. O que aconteceu? Uma belíssima metonímia: o órgão passou a ter o nome que tinham alguns de seus exemplares (nem todos os fígados eram ‘figados’) quando seus donos comiam muito figo.
Etimologia de 'fígado'
Em sua origem, a palavra 'fígado' nada tinha a ver com o órgão dos animais. 'Ficatum' estava relacionada a figos. O órgão se chamava 'iecur' e 'iecur ficatum' significava 'fígado de ave engordada com figos'. Ou seja, o órgão passou a ter o nome que tinham alguns de seus exemplares. (imagens: Wikimedia Commons)
Mas não se pense que o povo chama o fígado de ‘figo’ (‘estou com dor no figo’) porque mantém essa memória. Aqui, o processo é outro, o da redução, muitas vezes atestada, de proparoxítonas em paroxítonas; ou seja, trata-se do mesmo fenômeno que transforma ‘xícara’ e ‘abóbora’ em ‘xicra’ e ‘abobra’, no português popular. 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Agora em Cordel: A Privataria Tucana


A Privataria Tucana em cordel


Silvio Prado

Caiu a casa tucana
Do jeito que deveria
E agora nem resta pó
Pois tudo na luz do dia
Está tão claro e exposto
E o que ninguém sabia
Surge revelado em livro
Sobre a tal privataria.

Amauri Ribeiro Junior
Um jornalista mineiro
Em mais de 300 páginas
Apresenta ao mundo inteiro
A nobre arte tucana
De assaltar o brasileiro
Pondo o Brasil à venda
Ao capital estrangeiro.


Expondo a crua verdade
Do Brasil privatizado
O livro do jornalista
Não deixa ninguém de lado
Acusa Fernando Henrique
Gregório Marin Preciado
Serra e suas mutretas
E o assalto ao Banestado.

Revelando em detalhes
Uma quadrilha em ação
O relato jornalístico
Destrói logo a ficção
De que político tucano
É homem de correção
Mostrando que entre eles
O que não falta é ladrão.

Doleiros e arapongas
Telefone grampeado
Maracutaias financeiras
Lavagem por todo lado
Dinheiro que entra e sai
Além de sigilo quebrado
Obra de gente tucana
Na privatização do Estado.

Parece mas não é
Ficção esse relato
Envolvendo tanta gente
E homens de fino trato
Que pra roubar precisaram
Montar um belo aparato
Tomando pra si o Estado
Mas hoje negam o fato.

Tudo isso e muito mais
Coisas de uma gente fina
Traficantes de influência
E senhores da propina
Mostrando como se rouba
Ao pivete da esquina
E a cada negócio escuso
Ganhando de novo na quina.

Se tudo isso não der
Pra tanta gente cadeia
Começando por Zé Serra
Cuja conta anda cheia
O Brasil fica inviável
A coisa fica mais feia
Pois não havendo justiça
O povo se desnorteia

Com CPI já pensada
Na câmara dos deputados
Não se fala outra coisa
No imponente senado
Onde senhores astutos
E tão bem engravatados
Sabem que o bicho pega
Se tudo for investigado.

Por isso, temos tucanos
Numa total caganeira
No vaso se contorcendo
Às vezes a tarde inteira
Mesmo com a velha mídia
Sua indiscreta parceira
Pelo silêncio encobrindo
Outra grande roubalheira.

São eles amigos da Veja
Da Folha e do Estadão,
Da Globo e da imprensa
Que distorce a informação
Blindando tantas figuras
Que tem perfil de ladrão
Mostrando-os respeitáveis
Como gente e cidadão.

Pois essa mídia vendida
Deles eterna parceira
E que se diz democrática
Mas adora bandalheira
Ainda não achou palavras
E silenciosa anda inteira
Como se fosse possível
Ignorar tanta sujeira.

Ela que tanto defende
A liberdade de imprensa
Mas somente liberdade
Pra dizer o que compensa
Não ferindo interesses
Tendo como recompensa
Um poder exacerbado
Que faz toda a diferença.

Mas neste livro a figura
Praticamente central
Sujeito rei das mutretas
Um defensor da moral
É o impoluto Zé Serra
Personagem que afinal
Agora aparece despido
Completamente venal.

É o próprio aparece
Sem retoque nem pintura
Tramando nos bastidores
Roubando na cara dura.
É o Zé Serra que a mídia
Esconde e bota censura
Para que o povo não veja
A sua trágica feiúra.

E ele sabe e faz tudo
No reino da malandragem
Organiza vazamentos
Monta esquema de lavagem
Ensina a filha e o cunhado
As artes da trambicagem
E como bandido completo
Tenta preservar a imagem.

Mas agora finalmente
Com a casa já no chão
E exposta em detalhes
Tão imensa podridão
Que nosso país invadiu
Com a privatização
Espera-se que Zé Serra
Vá direto pra prisão.

E pra não ficar sozinho
Que ele vá acompanhado
Do Fernando ex-presidente
Mais o genro dedicado
Marido da filha Mônica
E outro homem devotado
Ricardo Sergio Oliveira
E também o Preciado.

Completando o esquema
Deixando lotada a prisão
Ainda cabe o Aécio
Jereissati e algum irmão
Nunca esquecendo o Dantas
Que só rouba de bilhão
E traz guardado no bolso
O tal Gilmar canastrão.

Como estamos em época
De Comissão da Verdade
Que se investigue a fundo
E não se tenha piedade
Dos que usaram o Estado
Visando a finalidade
De praticar tanto crime
E ficar na impunidade.

Tanto roubo descarado
Provado em documento
Não pode ser esquecido
E ficar sem julgamento
Pois lesou essa nação
Provocando sofrimento
A quem sofre e trabalha
Por tão pouco vencimento.

Que o livro do Amauri
Maior presente do ano
Seja lido e comentado
Sem reservas nem engano
Arrebentando o esquema
Desse grupo tão insano
Abrindo cela e cadeia.
Pra todo bandido tucano.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Os alvéolos são formados constantemente, i.e., os pulmões não estão completamente formado aos tres anos de idade

http://www.sciencedaily.com/releases/2011/12/111206082602.htm


Study Fundamentally Alters Our Understanding of Lung Growth


The researchers, led by a team at the University of Leicester, put forward a theory for the first time based on research evidence that new air sacs, called alveoli, are constantly being formed. This contradicts information in most medical textbooks that explain that the tiny air sacs begin to develop before birth (around the 6th month of pregnancy) and continue to increase in number until the age of about 3 years.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

FEBRE AMARELA - A CRIAÇÃO DE UMA EPIDEMIA


A cobertura da febre amarela pela Folha

Por Evanildo da Silveira
Lembra da campanha da Folha, Eliane Cantanhêde, "a favor" de uma epidemia de febre amarela em 2007 e 2008? Quer a Folha insistia que haveria uma epidemia da doença. Agora, uma pesquisadora da USP desmacara aquele absurdo:
Pesquisadora da USP desconstrói discurso epidêmico
 da cobertura jornalística sobre febre amarela
  Analisar o discurso veiculado pelo jornal Folha de S. Paulo durante a epizootia de febre amarela silvestre, que atingiu também seres humanos, foi o objetivo da dissertação de mestrado Epidemia midiática: um estudo sobre a construção de sentidos na cobertura da Folha de S.Paulo sobre a febre amarela, no verão 2007- 2008” , defendida pela jornalista e pesquisadora Cláudia Malinverni, na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
Foram analisadas 118 matérias veiculadas pelo jornal, entre 21 de dezembro de 2007 e 29 de fevereiro de 2008, recorte temporal que permitiu localizar a notícia que deu início ao fenômeno de agendamento midiático, a evolução do grau de noticiabilidade do tema e o seu desgaste como pauta de relevância. Para apoio à análise, foram selecionados 40 documentos institucionais sobre a doença, emitidos pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, no mesmo período.
Os achados indicam que as estratégias discursivas da cobertura jornalística relativizaram o discurso da autoridade de saúde pública; enfatizaram o “aumento progressivo” do número de casos; colocaram a vacinação como o limite entre a vida e a morte, omitindo riscos do uso indiscriminado da vacina antiamarílica; e propagaram a tese de uma iminente epidemia de febre amarela de grandes proporções. Essas estratégias deram novos sentidos à doença, deslocando o evento de sua forma silvestre, espacialmente restrita e de gravidade limitada, para a urbana, de caráter epidêmico e potencialmente mais grave.
Secundariamente, a análise permitiu identificar os riscos a que a população foi exposta em função dos sentidos produzidos pelo discurso midiático, com a ocorrência de óbitos diretamente relacionados ao noticiário veiculado pela imprensa, de modo geral, e seus impactos sobre o sistema público de saúde brasileiro. Como resultado da “epidemia midiática”, houve uma explosão da demanda pela vacina, que obrigou o Ministério da Saúde a distribuir, entre dezembro de 2007 e 22/02/2008, 13,6 milhões de doses da vacina antiamarílica, mais de 10 milhões de doses acima da distribuição média de rotina, para o período. Em menos de dois meses, mais de 7,6 milhões de doses foram aplicadas na população, 6,8 milhões só em janeiro de 2008, ápice do agendamento midiático. Em razão do aumento exponencial do consumo de vacina, o Brasil, um dos três fabricantes mundiais do antiamarílico, suspendeu a exportação do imunobiológico e pediu à Organização Mundial da Saúde (OMS) mais 4 milhões de doses do estoque de emergência global.
Além disso, a omissão da cobertura jornalística quanto aos riscos inerentes ao uso indiscriminado da vacina expôs a população brasileira a riscos letais. Em 2008, a vigilância de eventos adversos pós-vacinal do Ministério da Saúde registrou 8 casos de reação grave à vacina, dos quais 6 foram a óbito, 2 deles por doença viscerotrópica (DV), a forma mais rara e grave de reação ao vírus vacinal. Ressalte-se que, no Brasil, em nove anos (1999-2007) foram registrados 8 casos de DV, com 7 óbitos.
As matérias produzidas pelo jornal deram intensa visibilidade (saliência) às informações que visavam relativizar a instância discursiva oficial, que, por sua vez, não conseguiu impor-se ao fluxo discursivo midiático. Os sentidos produzidos pela cobertura jornalística tiraram de perspectiva as complexidades dos processos do adoecimento humano e os limites do conhecimento no tratamento das doenças. Nesta luta simbólica, perdeu o sistema público de saúde, mas, sobretudo, perdeu a população brasileira: mortes ocorreram.

Mais informações com a pesquisadora Claudia, pelo e-mail: Claudia.malinverni@usp.br 

Stinky frogs are a treasure trove of antibiotic substances

Stinky frogs are a treasure trove of antibiotic substances

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Some tumors contain factors that may block metastasis

Some tumors contain factors that may block metastasis

E na Faculdade Leão Sampaio...

No Blog Filhotes de Fauchard, Lorem relata um diálogo entre seus colegas:

Gil- Karuê e Socorro conversando sobre catapora:
- Socorro, por que não se pega catapora duas vezes?
- Por que as células de defesa guardam na memória os anticorpos para a doença.
- E se as células tiverem Alzheimer?

Sem comentários ¬¬


Mas analisando bem o diálogo.
A questão levantada é muito boa!
"E se as células tiverem Alzheimer?"

e é isso mesmo... a memória falhando, falha a imunização. Daí pode ser necessário (e possível) lembrar as células (o organismo) realizando uma vacinação de reforço (existem diversos esquemas de vacinação), ou falhas na vacinação (ler sobre pacientes com malária, nos quais a vacinação com certa frequencia falha).
.
Debater... liberar as idéias.... fazer tempestade cerebral... ótima forma de aprender, e ás vezes de descobrir o novo.
.

Células imunes que nos defende do sistema imune - é o "It's self, stupid!"

Immune system has protective memory cells, researchers discover


Descobertas, relatados na edição de 27 de novembro (2011) na Nature, podem permitir novas estratégias para o combate de doenças autoimunes bem como prevenir rejeições de transplantes.
As células identificadas neste estudo circulam no sangue e são contrapartes da células de memórias que se formam quando somos expostos à antígenos (infecção ou vacinação).
Abul Abbas, Michael Rosenblum e Iris Gratz usaram um modelo animal (camundongo) de doença autoimune para descobrir um papel dos linfócitos T reguladores (Treg) na memória do sistema imune.
Eles descobriram que o corpo se defende dos ataques autoimunes por ativar protetivamente uma pequena fração de linfócitos T reguladores.
Este é um conceito novo - a de que os tecidos têm memória!, disse Abbas. "Exposições subsequente da mesma proteína que gera autoimunidade naquele tecido pode levar a doença inflamatória menos severa."
Doenças autoimunes são atribuídas a defeito de funcionamento de células imunitárias conhecidas como linfócitos, inclusive as produtoras de anticorpos, que normalmente atacam proteínas não-próprias.
Nas doenças autoimunes, linfócitos pode ser direcionados contra proteínas próprias. Na esclerose múltipla, por exemplo, os linfócitos produzem anticorpos contra a mielina que envolve os axônios. No lupus, anticorpos atacam DNA.
Mas em muitos casos, as doenças autoimunes podem envolver resposta anormal de linfócitos T reguladores (Tregs). "Assim, ao invés de uma resposta imune que ataca, esta é uma resposta imune que suprime o ataque", diz Rosenblum. Os dois tipos de células existem em equilíbrio, e este equilíbrio pode ser rompido nas doenças autoimune.
Clínicos já observaram que uma doença autoimune que ataca um único órgão, pode sofrer uma amenização ao longo do tempo. Além disso, injeções repetidas, com doses gradualmente elevadas de um alérgeno, pode amenizar a severidade de doenças alérgicas.
Os pesquisadores desenvolveram um camundongo em que podiam controlar a expressão de uma proteína - ovalbumina - na pele, ou seja, os pesquisadores poderiam fazê-la ser expressadas (ligadas) ou não (desligadas). Os camundongos foram estimulados a produzi-la em abundância o que provocaria uma resposta autoimune. Mas...
... a presença da proteína também estimulou a ativação de linfócitos T reguladores (Treg). Os Tregs ativados proliferaram e se transformaram em formas mais potentes que suprimiam a autoimunidade.
Quando os pesquisadores inibiram e novamente estimularam em abundância a produção de ovalbumina nos camundongos uma resposta autoimune mais fraca foi o que ocorreu, devido à presença de Tregs ativados. Estas células estão em estudo no tratamenteo de rejeição de órgãos transplantados.
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Este texto pode ser lido levando em consideração matéria publicada na REVISTA CIENCIA HOJE.
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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Key to aging? Key molecular switch for telomere extension by telomerase identified

Key to aging? Key molecular switch for telomere extension by telomerase identified

H2S, uma possibilidade na luta contra resistência a antibióticos

Na Science Daily, notícia sobre o papel de H2S na resistência à atividade antimicrobiana de antibióticos.

O informativo relata que:
- muitos antibióticos atuam gerando radicais livres;
- um papel contra estresse oxidativo foi demonstrado para o H2S;
- H2S é produzido por diversos microrganismos;
- a supressão de enzimas que permitem a formação endógena de H2S tornam os microrganismos sensíveis aos antibióticos testados.


Vamos acompanhar o desenrolar desta linha de pesquisa.

Leia também postagem anterior
http://professorflaviofurtadodefarias.blogspot.com/2011/11/bacterias-em-biofilmes-sao-muito-mais.html#more